segunda-feira, 24 de maio de 2010

"É preciso aproveitar o Guadiana"

Jorge Rosa, presidente da Câmara Municipal de Mértola, aposta “na mesma dinâmica, mas numa nova atitude”. O autarca quer desenvolver o concelho e atrair cada vez mais visitantes e, em sua opinião, o rio Guadiana, “é essencial” e “é preciso aproveitá-lo”. Jorge Rosa quer consolidar a estratégia traçada desde 2001.

O presidente da Câmara Municipal de Mértola aposta no envolvimento de todos os munícipes nas decisões cruciais para o desenvolvimento do concelho. O progresso económico é apontado como uma das principais prioridades e, neste sentido, segundo o autarca, "é preciso avançar com os grandes projectos para o concelho". O executivo pretende, assim, avançar com uma nova zona industrial e logística, com o melhoramento das acessibilidades, com a melhoria do abastecimento de água e saneamento, com o parque eólico, com novos projectos de habitação, com o parque urbano e de lazer municipal, com o fluviário do Guadiana, entre outros projectos. A educação e a área social também merecem destaque.

Foi eleito e aposta na "mesma dinâmica, mas numa nova atitude". Neste mandato o que é que os mertolenses podem esperar deste executivo? Esse slogan foi por nós utilizado na última campanha autárquica. Assumimos, em 2001, uma linha estratégica de actuação para implementar a médio/longo prazo e, nesse momento, adoptámos uma grande dinâmica de execução e de resolução de problemas. Queremos manter esta postura, mas com uma atitude diferente. Achámos que poderiam existir algumas melhorias, no que diz respeito à nossa relação com os munícipes e com as entidades vivas do concelho. É uma atitude de maior proximidade, com o intuito de apelar à participação activa de todos, de modo a que possamos melhorar, cada vez mais, a estratégia que temos para Mértola. Queremos, sobretudo, também apelar à participação dos jovens, porque tudo o que estamos a fazer hoje é a pensar no futuro dessa faixa etária. Queremos integrá-los em todas as nossas decisões.
Durante a campanha autárquica disse que esperava que este fosse o ano de consolidação da mudança. Existem condições para que este desejo se possa efectivar? Sim. Quando disse isso tinha a ver, precisamente, com a consolidação dessa nossa estratégia. Participei nela desde 2001 e ajustei-a, tanto quando pude, enquanto tive em outras funções na câmara municipal. Neste momento, enquanto líder de equipa, a minha intenção é mantê-la e consolidá-la, porque não se pode perder o trabalho de sete ou oito anos e alterar os grandes projectos. Uma estratégia tem de ter continuidade.
Pode identificar-me alguns desses grandes projectos? Mértola tinha, por exemplo, uma necessidade básica: o saneamento e abastecimento de água. Achamos que nos dias que correm é importante ter estas infra-estruturas concluídas, de modo a que possamos servir melhor as populações. Agarrámos e quisemos resolver este problema e este é, sem dúvida, o maior investimento dos últimos anos.
E projectos prioritários para o desenvolvimento económico do concelho?A remodelação do eixo comercial foi uma obra importantíssima. O objectivo foi revitalizar e criar novas condições nesta faixa principal da vila. Neste momento, as pessoas estão muito satisfeitas com o trabalho final e existem, efectivamente, melhores condições para a prática do comércio e para os próprios munícipes. As acessibilidades também merecem destaque, porque temos muitos quilómetros de estradas, de terra batida e de betuminoso, que precisam de ser remodeladas. As vias de ligação a Espanha deverão ser prioritárias, porque houve um investimento muito grande do outro lado da fronteira e é preciso melhorar as nossas acessibilidades. É preciso criar condições para que o povo espanhol continue a vir a Mértola. Defendemos também a melhoria de estradas nacionais, nomeadamente com melhores ligações ao Algarve, a Almodôvar e a Serpa. Continuamos a pressionar o poder central para que avance com as obras. O concelho tem um enquadramento estratégico muito favorável. Temos ligação a Espanha, estamos a 30 minutos do Algarve, estamos muito próximos da auto-estrada para Lisboa e perto de Beja. Estamos num local privilegiado e é necessário melhorar a nossa rede viária. Mértola também estava com algumas lacunas em termos de habitação e foi necessário criar novos projectos para loteamentos e novas áreas de expansão, que vão dar resposta às necessidades. Estamos também já com um projecto executado para uma nova zona industrial e logística, com 47 lotes, que será crucial para cativar novas empresa que podem criar emprego e riqueza em Mértola. O parque urbano e de lazer municipal também está em calha, bem como o "Âncoras do Guadiana", o "Mértola Concelho Terapêutico", o fluviário do Guadiana, o projecto de qualificação dos produtos únicos de Mértola, entre outros. E, claro, não podemos esquecer a importância extrema que a empresa municipal Merturis tem na promoção do concelho.
O turismo será uma alavanca essencial para o progresso do concelho? O turismo tem uma importância muito forte. Temos apostado muito neste sector, sem esquecer nenhuma das suas vertentes. A criação da empresa municipal de turismo - Merturis -, aliada à Fundação Serrão Martins e a outros parceiros, proporcionou uma dinâmica muito boa em Mértola. É vantajoso para o desenvolvimento económico. Decidimos seguir este caminho, nomeadamente com a criação de novos eventos. Queremos manter todas as iniciativas que estavam a ser feitas, apostando na inovação e, sobretudo, na qualidade. Este ano, assumimos também que faríamos o festival da juventude, que já se realizou, e definimos que, em Outubro, teríamos a primeira feira da caça. Todos os caçadores elegem Mértola como o concelho com melhor apetência para a prática cinegética e só temos a ganhar com este evento. Mértola foi o concelho do distrito que teve o maior aumento de número de visitantes. Estão previstos novos empreendimentos turísticos para o concelho e existem investidores que se querem fixar em Mértola, o que nos leva a pensar que estamos no bom caminho.
O rio Guadiana pode ser determinante? É essencial. Mértola deve a sua existência ao Guadiana. Durante muitos anos vários povos subiram o rio trazendo e levando riqueza, trazendo e levando pessoas. Mértola, neste momento, tem, precisamente, falta de pessoas e também de alguma riqueza. Podemos voltar à lógica anterior do rio, embora em circunstâncias diferentes. É preciso aproveitar o rio em prol do nosso desenvolvimento. Se for possível limpar o rio temos todas as condições para trazer pessoas e riqueza para Mértola. Já existem alguns interessados, nomeadamente no que diz respeito aos passeios no rio. Temos também um programa que está a ser acompanhado pela Merturis, onde vários grupos já manifestaram a vontade de vir passar um dia a Mértola, com o intuito de fazer um programa turístico. Achamos que com o aproveitamento do rio podemos criar condições para que as pessoas fiquem mais do que um dia no concelho. Temos uma oferta turística muito ampla e muito diversificada e o complemento do rio é, sem dúvida, muito importante. É uma vantagem muito grande Mértola ter o rio a seus pés. É necessário que as entidades responsáveis se apercebam da importância que o Guadiana tem para Mértola.
A ligação a Espanha também pode ser crucial para atrair pessoas? Tem sido. Continuamos a ser visitados por muitos espanhóis, sobretudo, ao fim-de-semana. A nossa gastronomia e os nossos museus continuam a ser muito apreciados. Também os nossos eventos e iniciativas beneficiam muito com esta ligação privilegiada a Espanha. O concelho está também a apostar nas energias renováveis...Temos três grandes zonas de aproveitamento solar, sendo que duas delas já estão a fornecer energia para a rede em grandes quantidades. Temos também algumas unidades mais pequenas de produção de energia e existem ainda vários pequenos projectos de aproveitamento solar, provenientes de particulares. Existe, no entanto, um grande projecto que é o parque eólico. Dentro de pouco tempo será uma realidade e é muito importante para o concelho, porque é um dos poucos que nos vai trazer mais-valias financeiras. Na verdade, 2,5 por cento da facturação reverte para a autarquia. Podemos dizer ao País que no concelho de Mértola é produzida energia limpa e que contribuímos para a sustentabilidade.
A educação e a área social também vão continuar a merecer destaque? Sim. Na educação temos feito um grande trabalho. Neste momento, a rede escolar está estabilizada e fizemos obras em cinco centros educativos. Temos sete locais onde recebemos crianças e asseguramos todos os transportes escolares. Penso que a remodelação da rede escolar foi essencial para as crianças, para os docentes e para os auxiliares educativos. Na área social, continuamos com o cartão social e, consequentemente, com apoios muito significativos aos munícipes mais carenciados. Temos, inclusive, novas medidas para este mandato. Não tínhamos, por exemplo, apoio às próteses auditivas e dentárias. Há cada vez mais portadores activos deste cartão e vamos sempre prever em orçamento esta verba. O Lar das Cinco Freguesias também vai ser uma realidade e será uma resposta fundamental para fazer face às debilidades existentes.
Como está a situação financeira da autarquia? Nos primeiros anos de investimento tivemos números não muito bons. Tentámos recuperar e consolidar contas e, neste momento, posso dizer que temos uma situação financeira excelente, que é reconhecida, inclusive, por muitas entidades. O nosso objectivo é pagar a todos os fornecedores em 35 dias. Temos as nossas contas em dia, nomeadamente em todas as associações a que pertencemos. É um orgulho poder ter sempre as contas em dia e temos muitas obras já realizadas que aguardam ainda por financiamento. Temos capacidade de endividamento para podermos contrair empréstimos e temos disponíveis cerca de 5, 5 milhões para investimento, o que é bastante razoável. Temos uma boa folga para continuarmos a investir, embora estejamos atentos à crise que está instalada. Apesar da câmara municipal ter uma boa situação financeira, é preciso continuar a ter cuidado e rigor.
Qual é o balanço que faz destes meses de mandato? Estava na presidência deste Setembro de 2008 e, desde que fui eleito, estou há seis meses. Foi necessário adaptar algumas coisas à minha forma de estar e de gerir. Foram feitas algumas reestruturações no início do mandato. Recorde-se que somos um novo executivo e uma equipa muito jovem. Trabalhamos em rede e cada um assume as suas responsabilidades, embora eu faça, enquanto líder da equipa, a coordenação geral. A câmara de Mértola é uma "máquina" muito grande. Temos quase 300 funcionários, estamos envolvidos em muitos projectos e estamos a trabalhar em muitas áreas. Cooperamos com vários concelhos e vários países e existe uma multiplicidade muito grande de tarefas a cumprir. Tem sido um trabalho muito gratificante e não queremos quebrar o ritmo que já vinha de trás. Os trabalhadores têm dado uma resposta excepcional e existe motivação e interesse. Queremos realizar todos os objectivos a que nos propusemos. O balanço só pode ser, assim, muito positivo.Texto Bruna Soares Fotos José Ferrolho in diariodoalentejo.pt